O que são as línguas estranhas e a interpretação delas? No contexto dos dons espirituais, falar noutras línguas é uma manifestação do Espírito; portanto, elas não são aprendidas, mas vêm de modo sobrenatural, sendo estranhas, desconhecidas, aos que as pronunciam. A promessa do batismo com o Espírito, com a evidência de falar noutras línguas, é mencionada nos dois Testamentos (Is 28.11,12; 44.3; Jl 2.28,29 com At 2.14-17; Mt 3.11; Lc 24.49; At 1.8). E o cumprimento dessa promessa começou no dia de Pentecostes (At 2.1-4). Há relatos históricos de que tal evidência ocorreu nas vidas dos crentes da Igreja Primitiva (At 4.31; 8.15-17; 10.44-48; 19.1-7), bem como nas de outros salvos, ao longo da História. A promessa do revestimento de poder, com a evidência de falar noutras línguas, é para hoje (At 2.39; 11.15; Hb 13.8), haja vista a “dispensação do Espírito” estar em curso (2 Co 3.8).
Qual é a utilidade das línguas estranhas? Primeiro: elas são a evidência inicial do batismo com o Espírito Santo (At 2.1-8; 10.44-46; 19.6; 9.18; 1 Co 14.18). Segundo: elas edificam o crente (1 Co 14.4). Terceiro: elas são dadas pelo Espírito ao crente a fim de capacitá-lo a orar em espírito — ou “pelo Espírito [gr. pneumati]” (1 Co 14.2,14-16; Ef 6.18; Rm 8.26). Quarto: elas são dadas pelo Consolador como uma mensagem profética (dom de variedade de línguas), em conexão com o dom de interpretação das línguas. O crente, ao receber momentaneamente a variedade de línguas, dirige-se à igreja (1 Co 12.29,30), mas sua mensagem precisa de interpretação (1 Co 14.5,13,27,28).
Como deve ser o uso das línguas estranhas no culto? Primeiro: deve haver autocontrole. O crente, quando fala em línguas que não são mensagens proféticas, deve se controlar, pois não fala aos homens, e sim a Deus (1 Co 14.2), edificando-se a si mesmo (1 Co 14.4,19). É errado falar em línguas só para mostrar aos outros que é pentecostal. Todos podem e devem falar em línguas (1 Co 14.5,39), mas sem exageros (1 Co 14.8,9). Segundo: é necessário que haja ordem. Quando um irmão estiver sendo usado em profecia, não deve outro falar em línguas em tom alto, visto que isso gera confusão e desordem (1 Co 14.33). Há momento de falar “de Deus” (audivelmente), e momento de falar “com Deus” (em tom baixo). No culto, deve haver duas ou três mensagens proféticas, umas depois das outras, com ordem (1 Co 14.29-31).
Em terceiro lugar, deve haver decência (1 Co 14.40). Decência diz respeito à conformidade com padrões morais e éticos; envolve dignidade, correção, decoro, modéstia, honradez, honestidade. Quarto: é preciso haver harmonia. O dom de variedade de línguas só é útil em conexão com o de interpretação das línguas. Quem fala em línguas deve se calar, caso não haja intérprete (1 Co 14.13,28).
O que é o dom de profecia? É uma capacitação momentânea para se transmitir uma mensagem específica de Deus através de uma inspiração direta do Espírito Santo (1 Co 14.30; 2 Pe 1.21). Trata-se de uma manifestação sobrenatural, cuja função precípua é a edificação da igreja (1 Co 14.4). Nos tempos do Antigo Testamento, os profetas eram intermediários entre Deus e o povo (1 Sm 3.20; 8.21,22; 9.6,9,18-20). Esse tipo de ministério profético durou até João Batista (Lc 16.16). Hoje, o profeta não é mais uma espécie de mediador. E ninguém precisa consultar profetas, e sim ao Senhor, diretamente (1 Tm 2.5; Ef 2.13; Hb 10.19-22; Gl 6.16; Fp 4.6).
Deve-se fazer uma distinção entre o ministério profético e o dom de profecia. Tanto o portador deste quanto o ministro são chamados de “profeta” (1 Co 14.29; Ef 4.11), mas há diferenças entre ambos. Primeiro, quando ao modo da concessão: o dom de profecia pode ser concedido a quem o busca (1 Co 14.1,5,24,31); já o ministério depende de chamada divina (Mc 3.13; Ef 4.11). Segundo, quanto ao uso: o dom de profecia decorre de uma inspiração momentânea, sobrenatural (1 Co 14.30); o ministério profético está relacionado com a pregação da Palavra de Deus (At 11.27,28; 15.32; 13.1). O dom de profecia era uma realidade nos dias da igreja primitiva (At 19.6; 21.9; 1 Co 14). Ali, o ministério profético e o dom de profecia, às vezes, eram intercambiáveis (At 21.8-10).
Por que vemos poucas manifestações do dom em apreço em nossos dias? Isso ocorre, primeiramente, por causa da ignorância. Pouco se fala nas igrejas acerca desse dom, como ocorria em Éfeso (At 19.2,3). Segundo: tem havido uma substituição. Coisas supérfluas têm ocupado o lugar que devia ser destinado à manifestação do Espírito no culto (1 Co 14.26). Terceiro: existe uma apatia espiritual, inclusive nas igrejas ditas pentecostais. Em muitos lugares não tem havido lugar para o Espírito operar (1 Ts 5.19). Quarto: há muito receio. Líderes há que, preocupados com as “meninices”, têm desprezado as profecias (1 Ts 5.20), esquecendo-se de que devem ensinar os “meninos” quanto ao uso correto desse dom (1 Co 14.22-24,28-30; 13.11).
Como julgar a profecia? Primeiro, segundo a reta justiça (Jo 7.24); isto é, por meio da Palavra de Deus (Jo 17.17; At 17.11; Hb 5.12-14). Segundo, mediante a sintonia do Corpo com a Cabeça (Ef 4.14,15; 1 Co 2.16; 1 Jo 2.20,27; Nm 9.15-22; Jo 10.4,5,27). Terceiro, pelo dom de discernir os espíritos (1 Co 12.10,11; At 13.6-11; 16.1-18). Quarto, através do bom senso (1 Co 14.33; At 9.10,11). Quinto, pelo cumprimento da predição (Ez 33.33; Dt 18.21,22; Jr 28.9), conquanto apenas isso não seja suficiente; Deus permite que, em alguns casos, predições de falsos profetas se cumpram (Dt 13.1-4). Finalmente, o julgamento deve se dar com base na vida do profeta (2 Tm 2.20,21; Gl 5.22). Tem ele uma vida de devoção a Deus? Ele honra a Cristo em tudo? Demonstra amar e seguir a Palavra do Senhor? Ama os pecadores e deseja vê-los salvos? Detesta o mal e ama justiça? Prega contra o pecado, defende o Evangelho de Cristo e conduz a igreja à santificação? Repudia a avareza?
Quais são as funções do dom de profecia? Primeiro: edificação. A Igreja é comparada a um edifício, e o Senhor Jesus é o seu fundamento (1 Co 3.10,12,14; Ef 2.22). Os salvos são pedras desse edifício (1 Pe 2.5), e a profecia é um dos meios pelos quais eles são edificados (1 Co 14.3,4,12,17). Segundo: exortação. Por meio da profecia, o crente é incentivado, despertado, fortalecido na fé (1 Co 14.3). Terceiro: consolação. O Senhor se utiliza desse dom para consolar o crente com palavras semelhantes às de Deuteronômio 31.8 ou Isaías 41.10; 45.1-3. Quarto: sinal para os incrédulos. Esse dom é de grande valia para convencer os descrentes (1 Co 14.20,22-25).
Finalmente, deve-se observar que os dons de elocução não têm autoridade canônica; não se manifestam para alterar ou contradizer o que está escrito na Bíblia Sagrada (2 Pe 1.21; 1 Tm 4.9; Jo 17.17; Sl 119.142,160; Ap 22.18,19; Pv 30.6). Eles também não são prioritários para o governo da igreja. As finalidades principais dos dons de saber, de modo geral, são: edificar, exortar e consolar (1 Co 14.3). O Espírito orienta a igreja por meio dos dons espirituais (At 13.1-3; 16.6-10), mas o ministério eclesiástico não deve se subordinar a “profetas” (Ap 2.20-22; At 11.28-30; 15.14-30). É uma prática antibíblica consultar profetas em nossos dias, pedindo respostas quanto a casamentos, viagens, negócios, etc. Os dons em apreço devem ser usados “na igreja” (1 Co 14.3,13,26,28).
Ciro Sanches Zibordi
Via CPADNEWS (01/05/2014)
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